Para servidora do SUS, trabalho com cuidado e amor faz a diferença na vida das mulheres
Cada cuidado realizado pelas equipes do SUS curitibano, cada vacina aplicada, faz a diferença na vida de milhares de pessoas, tendo como resultado maior qualidade de vida da população assistida.
Esta filosofia de trabalho é o lema da socióloga Maria Stela Elias, que há 38 anos atua na Secretaria Municipal de Saúde e atualmente é coordenadora de Informações do Distrito Sanitário da Regional CIC. O setor é responsável pela gestão de informação de indicadores de saúde, coordenação de logística e recursos humanos, oficinas e capacitações para equipes de saúde.
“O que eu tento passar para as nossas equipes gerenciais é que atrás de cada indicador, atrás de cada número, existem pessoas. Se a gente encaminha um exame preventivo, vai dar um indicador de taxa de cobertura. Mas quem recebeu aquele exame foi uma mulher. De repente, podia estar alterado e ela foi cuidada em tempo”, exemplificou Maria Stela.
Mãe Curitibana
O exemplo citado sobre a saúde feminina vem bem a propósito das comemorações do Dia Internacional da Mulher, em 8 de março. Ela citou que ao longo da sua trajetória no SUS curitibano, cujo modelo ajudou moldar ao longo de todos estes anos, a Secretaria Municipal de Saúde sempre teve entre os objetivos a promoção da saúde das mulheres.
“Um grande momento foi a criação do programa Mãe Curitibana. Para as gestantes, a questão da vinculação na maternidade foi um grande avanço, porque as mulheres, até aquele momento, não tinham certeza de onde fariam o parto. Até aconteciam nascimentos em ambulâncias, em táxis, em carros. Esse foi um grande momento para elas, todo o cuidado do pré-natal que foi instituído”, citou.
Cultura do cuidado
Além disso, ela observou que houve uma evolução com o cuidado diário com a saúde das mulheres de uma forma geral nas unidades de saúde, como a coleta do exame preventivo a qualquer momento e os programas de prevenção de diabetes e hipertensão.
“Culturalmente, elas já se cuidam mais que os homens. E o sistema sempre esteve aberto para que elas buscassem saúde em todos as fases da vida, inclusive no climatério, fazendo as suas consultas de rotina”, disse.
O climatério é o período de transição em que a mulher passa da fase reprodutiva para a não reprodutiva, com alterações hormonais.
No SUS curitibano, as mulheres também podem ter acesso ao Emulti - equipes multidisciplinares.
“Estas equipes proporcionam para as mulheres e todos aqueles que procuram o serviço, cuidados especializados com fisioterapeutas e psicólogas, o que é uma evolução da saúde de Curitiba”, disse.
Orgulho do SUS
A estrutura do SUS curitibano é um motivo de orgulho pessoal para a socióloga. Maria Stela foi aprovada em concurso público em 1988 e começou a trabalhar no Centro de Vigilância e Epidemiologia. Depois, foi transferida para a Coordenação de Informação do Distrito Sanitário da Regional Pinheirinho e por último foi designada para a Coordenação de Informações da Regional CIC.
“Eu sempre falo que eu sou muito feliz na escolha que fiz de estar no Sistema Único de Saúde, que é uma das políticas públicas da área mais abrangente do mundo. Apesar das nossas desigualdades e dificuldades, é um sistema que abrange todos. E eu fico muito feliz de estar nesse sistema e de ter contribuído para quase tudo que a secretaria desenvolveu”, disse.
Ela cita como exemplos o sistema de informação, a descentralização e a implantação dos indicadores de acompanhamento para incentivo das equipes.
Humanização crescente
Para o futuro, Maria Stela imagina que pode contribuir com o incentivo para a crescente humanização do sistema de saúde.
“As discussões são todas nesse sentido, de que atrás de cada número têm pessoas. E isso significa cuidado, significa fazer a diferença na vida dessas pessoas para viverem mais, para terem mais qualidade de vida. Se aquela taxa de cobertura vacinal que a gente discute na reunião gerencial for maior, mais crianças vão estar cuidadas, mais crianças vão ter menos risco de ter doenças. Então, é isso que me motiva: que mais equipes se apropriem dessa visão, de enxergar que cada curativo que é feito, cada vacina que é aplicada, faz a diferença”, citou.
Maria Stela reconhece que este trabalho é um grande desafio para as equipes de saúde e ele se repete todos os dias e precisa ser vencido continuamente para que a população seja atendida com eficiência.
“Muitas vezes isso pode ser cansativo e até desmotivador. Mas eu sempre falo e converso com as equipes, e costumo citar o Mito Sísifo', disse ela. O mito narra a história do astuto rei de Corinto que, ao desafiar as regras divinas e enganar tanto Tânato quanto Hades, foi condenado pelos deuses a empurrar eternamente uma pedra até o topo de uma colina, apenas para vê-la rolar de volta, simbolizando a luta incessante e sem propósito contra forças maiores.
“Eu comparo o nosso trabalho com rolar uma pedra todo os dias, mas o nosso objetivo não é botar pedra lá em cima. O nosso objetivo é rolar esta pedra com amor, com dedicação, por mais que seja repetitivo”, disse.
Nas capacitações que administra, Maria Stela sugere que o profissional do SUS deve enxergar que o trabalho é bonito, por mais repetitivo que ele seja, porque ele é cuidado, ele não é uma coisa automática, não é uma coisa repetitiva por natureza.
“Ele é repetitivo, mas tem interação com as pessoas. Então eu posso rolar a pedra com amor, com cuidado e reconhecer que o meu trabalho faz a diferença na vida das pessoas”, finalizou.