"O medo não nos parou", diz profissional de saúde de Curitiba que atuou na pandemia

O medo não nos parou diz profissional de saúde de Curitiba que atuou na pandemia

O dia 11 de março marca datas importantes na área da Saúde em Curitiba. Foi quando a cidade registrou seu primeiro caso de covid, em 2020, e também a data em que o prefeito Rafael Greca sancionou a Lei 15.955, em 2022, instituindo o Dia de Gratidão e Reconhecimento a todos os profissionais que trabalharam na linha de frente no combate à pandemia. Desde então, anualmente são lembrados todos aqueles que atuaram incansavelmente no enfrentamento de um dos maiores desafios da história recente da saúde pública mundial.

Uma das profissionais da linha de frente da pandemia é a técnica de enfermagem Fátima Luciana Costa Luz, da Unidade de Saúde Ouvidor Pardinho, no Centro de Curitiba. Com 12 anos de profissão, Fátima considera o período pandêmico seu maior desafio profissional.

“Era um medo surreal. A gente não sabia nada sobre a doença e ao mesmo tempo havia uma população carente de cuidado, que é a principal função da enfermagem”, diz Fátima, analisando os desafios impostos à toda sociedade naquele período.

“Eu agradeço a oportunidade de trabalhar nesse momento único e de vencer o medo. Nós saímos fortalecidos e fazemos parte da história que será contada em livros”, declarou.

Unidade de Pronto Atendimento

Por mais de dois anos, a US Ouvidor Pardinho atuou também como Unidade de Pronto-Atendimento, transformada em unidade de referência para a covid. Foi quando, com o aumento de registro de casos, as Upas de Curitiba passaram a fazer internamentos e todo o sistema de saúde da capital precisou ser revisto, priorizando o atendimento dos casos respiratórios.

Rapidamente uma enfermaria foi montada e a equipe capacitada para atuar em urgência e emergência. Por sua localização, na região central da cidade, a demanda era imensa e o aprendizado diário.

“A gente precisou rever a técnica de atuação do cuidado com os pacientes e se proteger, porque o risco de contaminação era permanente”, conta a profissional, que, além dos casos de covid, precisavam também manter os atendimentos de urgência e emergência.

Com dois filhos pequenos, Fátima conta que o marido foi seu grande aliado nesse período, pois ele pediu demissão do trabalho e podia ficar em casa com as crianças enquanto ela enfrentava os desafios da saúde pública. Nunca precisou deixar de voltar para casa, mas o retorno era cercado de cuidados para evitar a contaminação.

“Era um sentimento de impotência muito grande e a gente perdia o contato inclusive das pessoas que trabalhavam conosco, porque o medo estava presente o tempo todo. Eu não sabia se voltava para casa e abraçava os meus ou se me mantinha isolada para protege-los”, relata.

A decisão, tomada em família, era de retornar ao lar, com todos os cuidados necessários. Uso de todos os equipamentos de proteção individual no trabalho, desparamentação primorosa para evitar a contaminação, chegada em casa em ambiente isolado, banho e lavagem das roupas separadas da família. Tudo isso para poder abraçar marido e filhos: “Eles são minha fortaleza e não podia me privar desse contato”, diz emocionada.

Perdas

Fátima conta que assistiu a muitas perdas, mas também presenciou muita empatia nesse período. “Muita gente que precisou dos cuidados da equipe de saúde voltou para agradecer e até aqueles que perderam pessoas queridas manifestaram gratidão pelo que receberam”.

Segundo ela, um misto de sentimentos sobressaía no auge da crise sanitária. A negação da doença foi o mais difícil de enfrentar. “Pessoas com o diagnóstico positivo de covid saíam da unidade com orientação de isolamento e iam até o mercado em frente, como se nada estivesse acontecendo. Uma falta enorme de empatia com o outro”, revelou.

A perda de uma companheira de trabalho foi cercada de muita comoção, como em todos os outros momentos difíceis que a covid trouxe. Técnica de enfermagem, como ela, a profissional estava prestes a se formar no curso superior e se contaminou fora do trabalho, em um culto da igreja que frequentava. Rapidamente foi intubada e não resistiu às complicações da doença.

Com a chegada da vacina e o fim da emergência de saúde pública, a profissional olha para o que enfrentou com o coração mais forte, mas ressalta a importância de as pessoas se protegerem e proteger o demais.

“Os cuidados precisam permanecer. Se eu tenho algum sintoma, vou me proteger com máscara, tomar as vacinas e fazer tudo que é necessário para retomar a saúde e proteger o outro, como aprendemos nessa pandemia”, diz Fátima.