Parar de fumar com ajuda é mais fácil

Apesar do grande número de fumantes em Curitiba, apenas 1% procura apoio para largar o vício nos postos de saúde. O Ministério da Saúde divulgou a pesquisa Vigitel 2016, que aponta a capital paranaense como a que concentra maior número de tabagistas, com estimativa de 14% da população, o que representa cerca de 265 mil habitantes.

O médico Marcelo Kolling, da Secretaria Municipal da Saúde, estima que 1% dos fumantes procure o atendimento SUS para abandonar o cigarro. “Não temos estatísticas da iniciativa privada, mas mesmo assim esse número é baixo”, comenta Kolling. Ele explica que o índice de sucesso dos que aderem ao tratamento gira em torno de 40% e os outros 60% permanecem na guerra contra o hábito de fumar.

A luta, como descrevem ex-fumantes, é difícil, mas não impossível. “Não é fácil para ninguém. Além do apoio medicamentoso, o grupo é muito importante, porque a troca de histórias e de dificuldades no processo de parar de fumar fortalece quem quer largar o cigarro”, diz a médica Eliane Rocha. Com a auxiliar de saúde bucal Simone Koutton, ela organiza os grupos antitabagismo do posto de saúde Ipiranga, no Pinheirinho.

Rede

O Ipiranga é um dos cerca de 30 postos de saúde que estão no programa. “Recebemos interessados de outros postos de saúde e já temos pessoas aguardando o próximo grupo”, explica Silvana Mendes, coordenadora da unidade.

O número de postos de saúde a oferecer o programa varia a cada trimestre, de acordo com a procura e quantidade de interessados para formar grupos. Quem adere ao tratamento SUS recebe os medicamentos, como adesivo, pastilhas e ansiolítico, no próprio posto em que participa do programa.

Apoio

Na troca de experiências em grupo percebem-se alguns pontos em comum. Aqueles que começaram a fumar depois dos 18 anos, o fizeram para se integrar a grupos sociais ou de trabalho. Outros, ainda crianças, acendiam os cigarros para os pais e adquiriram o “gosto”. A saúde é o principal motivo apontado pelos ex-fumantes para participar do tratamento antitabagismo, mas também relatam que o cheiro do cigarro incomodava a eles mesmos e à família.

 


Relatos de alguns participantes do grupo antitabagismo do Posto de Saúde Ipiranga:

Geraldo Rudimar Lopes Pereira, 57 anos
- Fumei por 26 anos. Comecei a fumar porque era bonito, dava status. Só que não é bem assim. A saúde da gente é mais importante. Parei de fumar faz um ano e parei devido a vir aqui no grupo do postinho. As pessoas falavam porque começaram fumar e porque queriam parar de fumar e isso me deu força. Com ajuda do grupo e do medicamento consegui. Acho que qualquer pessoa pode parar de fumar. Não é fácil. Tem que ter iniciativa e força de vontade que consegue.

Deair Maria Costa, 59 anos
- Comecei a fumar, eu tinha mais ou menos 20 anos, por incentivo de colegas da escola. Todo mundo fumava e eu achava bonito. Comecei a estudar em um colégio em que toda classe fumava, menos eu. Achava feio eu não fumar e todo mundo fumando. Aí comecei a fumar. Depois de mais ou menos 30 anos resolvi parar de fumar. Foi a minha terceira vez, essa. As outras duas, eu não levei muito a sério. Dava vontade de fumar voltava a fumar. Desta vez estava certa que tinha que parar de fumar. Encontrei ajuda aqui (Posto de Saúde Ipiranga). Eles foram muito acolhedores. A equipe aqui acolhe muito bem as pessoas e isso faz a diferença para a gente. Um dia pensei: não posso decepcionar a mim nem a eles e isso foi me dando força, junto com a medicação, com a doutora Eliane a Simone, toda a equipe que participava da reunião nos deu muito apoio e este apoio foi fundamental para mim.

Maria Izalete Rochi, 59 anos
- Fumei por 43 anos. Aos 15 anos comecei a fumar porque os colegas, minha chefe, todo mundo dizia que eu tinha que aprender a fumar para fazer parte do grupo. E fumei. Há uns 10 anos tentei parar de fumar sozinha. Fiz tudo que me ensinavam diminui o cigarro, vivia com o chiclete na boca, comendo gengibre etc. e não consegui. Me inscrevi no postinho e, quando me chamaram, foi a glória, porque muito rápido, com a ajuda, eu consegui. Hoje, faz dois anos que sou ex-fumante e estou muito bem por isso.

Pedrolina dos Santos, 59 anos
- Comecei a fumar com 15 anos e parei com 59, por que fiquei doente. Pensava em largar, mas achava difícil. Daí, peguei pneumonia, larguei o cigarro. Faz cinco meses que eu não fumo. A equipe tem me ajudado muito. Não digo que não tenho vontade, porque dá vontade. Mas eu sou mais forte que a vontade de fumar. E vou vencer, estou vencendo!

Marisa Pio, 57 anos
- Comecei a fumar com 13 anos. Fumei aprendendo com meu pai. Acendia o cigarro para ele e assim eu aprendi. Gostei e fumei por 43 anos. Busquei, no cigarro, refúgio. Era meu amigo constante. Era o que me acalmava, era o que me ajudava. Eu, sozinha, comprei cartela na farmácia e consegui parar só por seis meses. Então vim buscar ajuda, porque eu quero parar, pela minha saúde, por Deus, pelo meu filho e pela minha igreja.