Usuários de drogas se reabilitam com tratamento nos CAPS
As histórias de quem superou a dependência em álcool ou outra droga, ou melhor, que está na luta para superá-la, foi a linha condutora do debate da Semana Previda, no auditório do Hospital do Idoso Zilda Arns. A mesa redonda Conversando sobre Cuidados nos Caps AD foi promovida pelo Departamento de Saúde Mental da Secretaria Municipal da Saúde e mediada pela psicóloga Kiara Olivett, do Caps Bairro Novo.
A semana teve vários eventos sobre o uso indevido de drogas e incluiu o Dia Internacional contra o Abuso e Tráfico Ilícito de Drogas (26 de Junho), estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU). No debate sobre os Caps (Centros de Atenção Psicossocial), usuários partilharam a mesa com profissionais responsáveis pelo atendimento de pessoas dependentes de álcool ou outra droga.
A motivação para o uso abusivo de droga varia de fatores genéticos, sociais, familiares ou qualquer outro que provoque sofrimento. Emílio Grizental, usuário do Caps AD CIC (Fênix), trabalhou no Hospital Adauto Botelho, quando a instituição ainda tratava drogados de maneira “não muito agradável”, em suas palavras. “As famílias abandonavam lá quem as incomodava”, relatou. Na época, eram comuns eletrochoques, contenções físicas ou medicamentosas.
Liberdade
Anos depois, Emílio ficou internado 18 meses para se livrar do vício em álcool. Não adiantou. “Era ambiente de liberdade vigiada. Me sentia um criminoso”, disse. Foi no Caps que ele achou respeito e liberdade. “O acolhimento motivou o tratamento dentro de mim”, concluiu.
João Maria da Silva, usuário do Caps AD Boa Vista, afirmou que o tratamento só começa quando o usuário aceita a doença e decide por mudar. “Aprendi a ter alegria”, resumiu. Sobre as recaídas, usou como exemplo andar de bicicleta. “A gente cai, se levanta, desvia dos buracos. Tem que aprender a andar na bicicleta da vida”, resumiu.
Sara de Oliveira de Assis buscou sua autonomia interna no Caps Portão. “Nossas dificuldades não resolvemos sozinhos, mas com apoio para lidar com fatores externos”, comentou. A liberdade no Caps ajudou-a a reduzir danos e a buscar sua “liberdade interna”.
Comprometimento
A redução de danos foi abordada pela psiquiatra Sylvia Cardim, que trabalha no Caps Boa Vista. “É preciso abrir as portas, tocar o humano e suas dores, encontrar com o outro”, citou. Para ela, todo sintoma tem uma função na dinâmica familiar e social e a abordagem é complexa e particular a cada usuário.
A terapeuta ocupacional Lauren Macha Pinto, professora da Universidade Federal do Paraná, explicou que a autonomia do usuário depende de acreditar na reabilitação psicossocial. “Trabalhamos na construção da pessoa enquanto ser humano. O usuário é protagonista de seu tratamento”, afirmou.
A ajuda medicamentosa foi abordada pelo psiquiatra Hilário de Oliveira, do Caps Boqueirão. Ele esclareceu que não há medicamento capaz de acabar com a dependência, nem de dar ao usuário o prazer conseguido com a droga. “Tratamos transtornos de base. Por exemplo, quadros depressivos ou de ansiedade que se relacionam ao alcoolismo”, comentou. O remédio é útil durante o período de abstinência.