Experiência de Curitiba com população de rua serve de diretriz nacional
Uma experiência pioneira e bem-sucedida de Curitiba vai agora se estender para o restante do Brasil: as equipes do programa Consultório na Rua passarão a incluir cirurgiões dentistas, ampliando o atendimento a pessoas em situação de rua. A novidade está prevista na Portaria 1.029/2014, publicada em maio pelo Ministério da Saúde, e que prevê também a inclusão de arte-educadores e profissionais de Educação Física. Em Curitiba, o serviço odontológico já faz parte do programa desde agosto do ano passado e nesse período foram realizados mais de 11 mil atendimentos a moradores de rua.
Até agora, Curitiba era a única cidade a ofertar serviços odontológicos no programa Consultório na Rua.
“Como já tínhamos uma experiência anterior no atendimento à população em situação de rua, sabíamos da importância de contar com dentistas nas equipes, até mesmo para o estreitamento do vínculo com o morador de rua. Mesmo sem estar previsto na portaria anterior do Ministério da Saúde, a Secretaria resolveu assumir os custos para prestar um atendimento ainda mais qualificado para essa população”, explica a psicóloga Adriane Wollmann, coordenadora do programa Consultório na Rua em Curitiba.
O programa tem proporcionado momentos de alegria a pessoas como Ailton Rodrigues dos Santos, de 27 anos, morador de rua há 19 anos. “Quero me ver no espelho” – foi a primeira frase que disse ao levantar da cadeira do dentista na Unidade Básica de Saúde Vila Hauer, em janeiro, depois de concluir o tratamento, que incluiu limpeza e a fixação de uma prótese. “Morava com a minha família em uma casa abandonada e trabalhei como segurança. Nesta época consegui pagar um dentista em São Paulo, mas aqui ganhei o tratamento todo de graça, fui bem atendido e meus dentes ficaram ótimos. Dá vontade de ficar me olhando no espelho o dia inteiro”, disse Ailton.
A Secretaria Municipal da Saúde conta atualmente com quatro equipes de Consultório na Rua para atender a população em situação de rua em Curitiba, que está estimada em cerca de 4 mil pessoas. As equipes, que se dividem por quatro macrorregiões da cidade, são formadas por médicos, psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais, dentistas, técnicos e auxiliares em saúde bucal e em enfermagem. O programa é uma parceria entre a Prefeitura de Curitiba e o Ministério da Saúde, que subsidia cerca de 25% do valor do custeio das equipes.
Ampliação
Além dos dentistas, a portaria prevê que profissionais formados em arte-educação e educadores físicos também podem integrar as equipes, de acordo com as necessidades de cada território. “Curitiba teve uma experiência exitosa com a implantação dos dentistas no Consultório na Rua. É um profissional que facilita o acesso e o vínculo a essa população. A saúde é um exemplo de equidade e, quanto mais frentes tivermos para chegar à população em situação de rua, melhor”, destacou o coordenador de Saúde Bucal do Ministério da Saúde, Gilberto Pucca.
Para o cirurgião-dentista Alan Celso Sierakowski, servidor da Prefeitura há 24 anos e desde agosto do ano passado atendendo à população em situação de rua, a mudança no perfil do público atendido por ele – que antes era a população das unidades básicas de Curitiba – foi um desafio grande, mas que ele julgava necessário em sua carreira. “É uma população que estava excluída e, como cidadão e profissional de saúde, eu sentia que podia fazer algo para ajudar”, afirmou.
Sierakowski disse que a demanda da população de rua é grande, mas, ao mesmo tempo, o trabalho do dentista é melhor recebido do que pelo restante da população. “São pessoas que vêm com todos os tipos de problemas bucais, cáries, abcessos, problemas na gengiva, entre outros. Mas eles têm resistência em buscar o tratamento convencional. Por isso, quando sabem que há dentista no Consultório na Rua, aderem com maior facilidade ao tratamento”, comentou.