Medidas de Curitiba para o controle do HIV são exemplo para países africanos

00172072Representantes de Angola, Guiné Bissau, Estados Unidos e Brasil estão reunidos nesta semana em Curitiba para acompanhar serviços de saúde e trocar experiências que trazem impacto no controle de HIV/Aids. A capital paranaense foi escolhida pelo governo americano para sediar o encontro dos países lusófonos por ser signatária de um acordo global para reprimir a transmissão do HIV até 2020 e ter obtido visibilidade e avanços nessa área.

Desde segunda-feira (26), a comitiva tem visitado diversos equipamentos da Secretaria Municipal de Curitiba e acompanhado como os serviços são conduzidos no Município. “Nesses momentos, a gente também faz uma autoavaliação do que temos feito. É muito bacana podermos mostrar a esses países outras oportunidades”, afirma a diretora do Centro de Epidemiologia, Juliane Oliveira, que conhece a realidade angolana e destaca que a experiência pode trazer benefícios aos países africanos desde a forma de montar um banco de dados para controlar as notificações de pessoas infectadas pelo vírus até o tratamento e inibição da transmissão da doença.

Entre os espaços e serviços visitados pelo grupo ao longo da semana estão o Centro de Orientação e Aconselhamento (COA), unidades de saúde, o Laboratório Municipal e o Consultório na Rua. A Maternidade Bairro Novo esteve no roteiro de visitas de terça-feira (27). “Em Angola, são poucas maternidades e um grande número de atendimentos, o que as torna ambientes estressantes e nos faz pular algumas práticas como a presença do acompanhante, porque seria inviável ter mais uma pessoa para cada gestante”, explica a coordenadora do programa angolano de combate à transmissão vertical do HIV, Maria Ângela Francisco.

Maria Ângela conta que a média de permanência da mulher na maternidade, após o parto, é de 6 horas. “O que vimos aqui é muito positivo. Lá não temos esse fluxo bem definido, a puérpera não sabe onde terá o bebê, a consulta é feita na sala de parto”, relata. Para a diretora da Maternidade Bairro Novo, Tereza Kindra, a visita é uma ótima oportunidade para a troca de experiências. “É sempre bom compartilharmos nossos conhecimentos e saber que, mesmo em situações difíceis, é possível fazer o nosso trabalho”, destaca.

Gestantes

As medidas de prevenção da transmissão do HIV/Aids da mãe para o filho do programa Mãe Curitibana/Rede Cegonha também têm a atenção dos visitantes. O programa prevê medidas como o diagnóstico precoce, o acompanhamento durante o pré-natal e o fornecimento de medicamento para o bebê nas primeiras horas de vida, quando necessário. “Já na primeira consulta fazemos a vinculação da mãe portadora de HIV com uma maternidade de alto risco de referência para acompanhar a gestação e evitar a transmissão viram do vírus para o bebê a partir do uso de antirretrovirais”, explica o coordenador do programa, Wagner Barbosa Dias.

“É muito positivo poder auxiliar outros países com as experiências que temos desenvolvido em Curitiba para controlar o avanço da Aids. Esse intercâmbio nos traz outras realidades e nos permite refletir sobre como podemos inovar e avançar nossas ações”, afirma o secretário municipal da Saúde, César Monte Serrat Titton. Entre as inovações do SUS Curitiba estão a descentralização do tratamento do HIV para a atenção primária, com o suporte de infectologistas nos Núcleos de Atenção à Saúde da Família (Nasf), e plataforma on-line do programa A Hora é Agora, que permite testes rápidos de HIV a residentes da cidade.

Compromisso

Curitiba e outras 25 cidades de todo o mundo assumiram, em dezembro de 2014, na França, o compromisso para atingir a meta de diagnosticar 90% dos casos de Aids, tratar 90% desses pacientes e atingir carga viral negativada em 90% dos tratamentos, além de zerar a discriminação aos portadores da doença até 2020. Entre os municípios que fazem parte da Declaração de Paris estão Curitiba, Salvador, Amsterdam, Genebra, Nova Deli, Kingston, Maputo, Porto Príncipe, Bangkok, Argel, Bucareste, Casablanca, Dakar e Paris.