Com diferentes portas de entrada, SUS faz 5 milhões de consultas e 150 mil internações por ano em Curitiba
Quase 5 milhões de consultas médicas – entre básicas, de emergência e especializadas – e cerca de 150 mil internações foram realizadas pelo SUS em Curitiba no ano passado. No Brasil, o dado mais recente divulgado pelo Ministério da Saúde mostra que em 2014 foram 1,4 bilhão de consultas médicas e 11,5 milhões de internamentos, entre outros milhões de procedimentos. Os números fazem do SUS um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo.
Criado com a Constituição de 1988, o Sistema Único de Saúde destaca-se por adotar o princípio da universalidade, pelo qual todos os cidadãos têm direito ao acesso às ações e serviços de saúde. As portas do SUS são abertas a todos: brasileiros – sem discriminação, o que inclui aqueles sem endereço fixo, como os moradores de rua, e pessoas em conflito com a lei – e estrangeiros com residência fixa no país. Até 1988, só tinham acesso ao sistema público de saúde as pessoas com vínculo formal de trabalho (carteira assinada) ou que estavam vinculadas à Previdência Social. Quem não se enquadrava nestes quesitos, precisava recorrer aos planos de saúde ou serviços privados.
A diretora do Departamento de Atenção Primária à Saúde da Secretaria Municipal da Saúde, Nilza Faoro, afirma que o SUS Curitiba possui uma rede de serviços de saúde consolidada para atender a uma população estimada em quase 1,8 milhão de pessoas. “Estima-se que de 50% a 70% desse público busque o SUS para acompanhamento de saúde”, informa.
Porta de entrada
A unidade básica de saúde – o famoso “postinho perto de casa” – é a principal porta de entrada do SUS. Logo que a criança nasce – mesmo que tenha vindo ao mundo numa maternidade particular –, a mãe é procurada pela unidade de saúde mais próxima de sua casa para saber como está o bebê e vincular a criança ao serviço onde ela poderá receber todas as vacinas, fazer o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento (puericultura) e onde será atendida nos casos de necessidade. Quem não tem cadastro precisa ir até a unidade mais próxima, com documento e comprovante de endereço, para fazê-lo.
As unidades básicas atendem tanto pessoas com problemas de saúde agudos quanto pacientes com problemas crônicos, por meio de ações de prevenção, diagnóstico, tratamento, acompanhamento e até mesmo reabilitação. Entre os serviços oferecidos pelas 109 unidades básicas de saúde de Curitiba estão as consultas médicas, de enfermagem, procedimentos como vacinas, curativos, retirada de pontos, administração de medicamentos, atendimento odontológico e encaminhamentos para consultas especializadas, quando necessário.
Além disso, em cada um dos dez distritos sanitários de Curitiba há um grupo de profissionais preparados para dar suporte às unidades básicas de saúde da região. Eles integram os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (Nasfs). São fisioterapeutas, profissionais de Educação Física, fonoaudiólogos, ginecologistas, pediatras, psiquiatras, médicos infectologistas, entre outros.
Para facilitar a vida de usuários que trabalham durante o dia todo, desde 2013 a Secretaria Municipal da Saúde ampliou o horário de funcionamento de nove unidades básicas de saúde, que passaram a funcionar das 7h às 22 horas, de segunda a sexta-feira. Até 2012, apenas a Unidade de Saúde Santa Felicidade funcionava até as 22 horas. Hoje, além dela, os usuários também podem procurar atendimento nas unidades Bairro Alto, Pilarzinho, Eucaliptos, Camargo, Oswaldo Cruz, Ouvidor Pardinho, Concórdia, Bairro Novo e Monteiro Lobato.
“Em cada região da cidade há uma unidade básica aberta até mais tarde para atender a população e resolver a grande maioria das necessidades de atendimento em saúde. O objetivo é fazer com que as pessoas busquem as UPAs somente nos casos mais críticos”, afirma o secretário municipal da Saúde, César Monte Serrat Titton.
O aposentado Renato Cruz Ferreira Jorge, 63 anos, presidente do Conselho Local da Unidade de Saúde Vila Esperança, no Boa Vista, destaca que quanto mais forte o vínculo da população com sua unidade de saúde, menor a chance de ela recorrer à UPA sem necessidade. “Se a pessoa busca atendimento apenas na UPA, ela acaba não tendo o acompanhamento correto e essa perda de tempo pode resultar em problemas mais sérios futuramente”, salienta.
A coordenadora da Unidade de Saúde Capanema, Lívia Oliveira Fernandes Nonato, comenta que na sua área de abrangência, no Prado Velho, mais de 90% da população é usuária do SUS e o vínculo com as equipes – que atuam no modelo Estratégia Saúde da Família – é tão forte que raramente eles recorrem a algum outro serviço fora da unidade básica.
É assim com Adline Paul. Em dezembro, recém-chegada da República Dominicana, ela procurou atendimento na unidade por estar se sentindo mal e a equipe constatou que o desconforto era resultado de uma gestação já avançada. Foi cadastrada na unidade para fazer o pré-natal e todos os exames necessários. Entretanto, menos de dez dias depois do primeiro contato com a equipe, ela voltou devido a fortes dores. O médico Francisco Carlos Mouzinho de Oliveira verificou que Adline estava entrando em trabalho de parto. Imediatamente, ela foi encaminhada para a Maternidade Vitor Ferreira do Amaral, onde nasceu sua filha Juli Paul, uma pequena curitibana que agora é acompanhada pela US Capanema.
Para a cabeleireira Simone Fortes de Sá, 42 anos, a dificuldade está sendo justamente desfazer o vínculo com a antiga unidade de saúde, a Unidade de Saúde Ipiranga, no Capão Raso. Devido à reconfiguração dos territórios em todo município após a criação do Distrito Sanitário Tatuquara, vários usuários tiveram seus cadastros transferidos. Foi o caso de Simone, que agora está na área de abrangência da US Vila Feliz, no mesmo bairro. “Eu estou inconformada, porque o atendimento na Ipiranga é excelente e estou muito acostumada. Até já fui na US Vila Feliz e fui bem atendida, mas meu vínculo era com a unidade antiga e está sendo difícil aceitar esta mudança”, diz.
Rapidez para salvar vidas
Graças à agilidade da família e da equipe de saúde da Unidade de Saúde Nova Orleans, o pequeno Lorenzo Carvalho Fagundes pode comemorar seu primeiro aniversário no final do mês de abril. Na madrugada do dia 15 daquele mês, o menino – na época com 11 meses – tinha apresentado febre durante a noite. Como a febre não baixava e no início da manhã ele começou a apresentar sinais de convulsão, os pais o levaram para atendimento médico.
O problema é que, no dia do episódio, o trânsito na região estava muito lento devido a uma manifestação popular. Não daria tempo de ir até uma UPA ou mesmo até um hospital para socorrer o garoto. O local de referência mais próximo era a unidade básica de saúde na qual a família é acompanhada. “Meu marido chegou a dirigir na contramão, tamanho era o nosso desespero”, relembra a mãe do bebê, a manicure Yohanna Matheus de Carvalho.
A chefe da US Nova Orleans, Marcia Kucarz, conta que a família entrou na unidade desesperada, com Lorenzo no colo já com sinais de parada cardiorrespiratória. O bebê foi atendido pelo médico pediatra Talal Zaki, com o auxílio da equipe de enfermagem, até a chegada dos profissionais do Samu – como a ambulância também enfrentou a lentidão do trânsito por causa dos protestos, a equipe aérea do Samu foi acionada para agilizar o socorro. “Toda a equipe da unidade se mobilizou em torno desse caso no dia, pois além de ser uma situação muito grave, envolvia um bebê”, relata Marcia.
Após conseguirem fazer a reanimação, o menino foi encaminhado para o Hospital Evangélico, onde ficou três dias internado na UTI. Hoje Lorenzo está bem, mas segue em tratamento especializado pelo SUS para investigar a causa das convulsões.
Paralelamente, continua fazendo acompanhamento na US Nova Orleans. Essas consultas de rotina, entretanto, têm caráter de festa toda vez que a criança chega para atendimento. “Os primeiros socorros prestados pela equipe de saúde e também pelos profissionais do Samu fizeram toda a diferença na vida do Lorenzo. Não fosse a dedicação destas pessoas, eu teria perdido o meu filho”, afirma Yohanna.
Emergências nas UPAs
Curitiba tem hoje nove Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) 24 Horas e mais uma em fase final de construção (UPA Tatuquara) – uma em cada Distrito Sanitário –, que funcionam ininterruptamente e têm como principal objetivo atender os pacientes em situações de urgência e emergência médica (veja abaixo quando procurar uma UPA). As UPAs são equipamentos intermediários entre a Atenção Primária à saúde (unidades básicas) e os hospitais. São unidades equipadas para atender aos usuários em necessidades de pronto atendimento e qualquer situação de emergência.
As UPAs contam com consultórios de clínica médica, pediatria, serviços de laboratório e raio x. Em Curitiba, três delas têm também consultório odontológico para atender emergências (Boa Vista, Sítio Cercado e Fazendinha). Têm ainda leitos de observação para adultos e crianças, salas de medicação, nebulização e sala de emergência para estabilizar os pacientes mais graves até serem levados a um hospital.
Boa parte dos pacientes mais graves que dão entradas nas UPAs é encaminhada pelo Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), serviço que funciona 24 horas por dia com equipes de profissionais de saúde, como médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem e socorristas que atendem às urgências de natureza traumática, clínica, pediátrica, cirúrgica, gineco-obstétrica e de saúde mental. O serviço é acionado pelo telefone 192 e as informações fornecidas ao médico-regulador pela pessoa que está solicitando o serviço são essenciais para o encaminhamento do atendimento adequado do paciente.
Curitiba conta com 24 ambulâncias do Samu que podem ser modelo Alfa (8 ambulâncias) – suporte avançado de vida, com equipe formada por médico, enfermeiro e motorista-socorrista – ou modelo Bravo (16 ambulâncias) – suporte básico de vida, com equipes formadas por auxiliar de enfermagem e motorista-socorrista.
Quando buscar diretamente uma UPA
A unidade de saúde mais perto da sua casa deve ser o ponto de busca de atendimento para quase todas as necessidades de saúde que você tenha. Lá é que você encontrará sempre a mesma equipe para atendê-lo e este conhecimento que você tem da equipe e que a equipe tem de você serão essenciais para prestar o melhor tipo de cuidado, na hora que você mais necessita. Entretanto, em algumas situações será necessário buscar diretamente uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). O médico Marcelo Garcia Kolling, coordenador da Carteira de Serviços da Atenção Primária à Sáude, explica quais são estas situações:
1. Se a unidade de saúde não está em horário de funcionamento e você sente que não pode esperar até que ela esteja aberta: dores fortes, falta de ar, fraqueza súbita, ferimentos pequenos mas que não param de sangrar com pressão são alguns exemplos de situações que poderiam ir para a unidade básica se ela estivesse em horário de funcionamento, mas para os quais geralmente não se consegue aguardar até o dia seguinte ou um final de semana inteiro;
2. Grandes traumas, grandes queimaduras, sangramento abundante e fraturas evidentes: Situações em que há obviamente um osso quebrado (deformidade na região), que envolvam cortes grandes e que provoquem perda abundante de sangue devem ser levados preferencialmente para a UPA, quando há uma maneira adequada de transportar o paciente. Se não houver, deve-se acionar o Samu (192) ou o Siate (193). Sangramentos abundantes resultante de tosse, vômito ou pelo intestino e também devem ser avaliados com urgência;
3. Perda ou alteração de consciência e convulsão que não melhora num prazo máximo de 5 minutos: isto inclui desmaios, alucinações, ataques epilépticos. Quando o episódio é mais breve pode ser levado para avaliação na própria unidade básica de saúde;
4. Suspeita de infarto ou derrame: Alteração súbita na visão, dificuldade para falar, paralisias ou perda de sensibilidade em parte do corpo são situações de um possível derrame. Dor intensa no peito, ou na parte superior do abdome, com irradiação para o braço esquerdo ou mandíbula, sudorese intensa e falta de ar súbita são suspeitas de infarto. Pessoas que já tiveram infarto ou derrame e voltam a apresentar os sintomas fazem parte do grupo de maior risco deve ser dada atenção especial nestes casos. Pessoas que já têm fatores de risco, como idade maior que 60 anos, pressão alta de difícil controle, diabetes e são fumantes, também têm maior risco;
5. Reações alérgicas graves: reações alérgicas que causem inchaço que torne difícil a respiração (geralmente no rosto, pescoço ou pessoas que já têm alergia respiratória, como asma e bronquite) precisam de atendimento o mais rápido possível;
6. Tentativa de suicídio: pessoas que fizeram uma tentativa de suicídio, qualquer que seja o modo devem ser encaminhadas para ficarem em observação, tanto pelas consequências imediatas da agressão quanto pela possibilidade de nova tentativa por impulso;
7. Ingestão de substância tóxica ou venenosa: contato sem proteção ou ingestão acidental de materiais tóxicos como venenos, produtos de limpeza industrial, ácidos, álcool devem ser avaliados em uma UPA. Crianças que ingerem pilhas, baterias ou objetos cortantes também devem ser avaliadas com urgência;
8. Pessoa encontrada desacordada na rua: pessoas que desmaiam em via pública ou que são encontradas inconscientes e não podem ser acordadas, devem ser removidas para uma UPA;
9. Lesões e traumas severos oculares: cortes ou perfurações no olho, especialmente se apresentam alterações na visão;
10. Ferimento à bala ou facada: nestes casos, chamar o Siate (193) para remoção, não retirar se a faca estiver encravada, aplicar uma compressão com toalha até que chegue o transporte, usar luvas para proteção individual;
11. Picada de cobra ou escorpião: acidentes com animais venenosos são raros, mas podem ser muito graves. Não tente capturar o animal, a não ser que ele já esteja morto ou você tenha experiência para isso. Avisar a Unidade de Vigilância de Zoonoses pela Central 156 para que eles possam fazer a captura adequadamente. Uma foto tirada com o celular pode ajudar o pessoal do serviço de emergência a identificar a espécie do animal e o risco.
A remoção, via de regra, deve ser providenciada por meio do contato com o serviço de atendimento médico de urgência (Samu) pelo número de telefone 192.
Se houver uma unidade de saúde muito próxima em horário de funcionamento, a pessoa pode ser levada até lá para receber os atendimentos iniciais até que chegue o serviço de remoção.