Saúde da Família leva atenção para perto do paciente e reduz filas em outros serviços

00183263A casa de Sebastiana Barbosa dos Santos, de 75 anos, é um dos mais de 37 mil domicílios do bairro Sítio Cercado, na região sul de Curitiba. Portadora de uma doença pulmonar que comprometeu sua mobilidade, a idosa é paciente da equipe "amarela" da Unidade de Saúde Coqueiros, que atua dentro da Estratégia de Saúde da Família do Sistema Único de Saúde (SUS) de Curitiba.

Com o prontuário de Sebastiana em mãos, a equipe cumpre parte da rotina estabelecida pelo modelo de atendimento: as consultas domiciliares a usuários que não têm como comparecer à unidade de saúde. A cada três ou quatro semanas, ou quando a família solicita, a idosa recebe em casa os profissionais que checam seu tratamento, revisam medicamentos, solicitam e encaminham para exames complementares, conferem rotinas e fazem novas orientações para manter as condições de saúde da paciente.

Na visita de abril, a equipe recomendou que Sebastiana se esforçasse para curtas caminhadas no quintal e na calçada de casa, para estimular a musculatura e mobilidade. A paciente se queixou de incômodo na visão e recebeu o encaminhamento para a consulta com oftalmologista. Na revisão da caixinha de remédios, alguns foram trocados para garantir que a família tivesse acesso a medicamentos distribuídos pela farmácia da unidade de saúde.

Entre os principais resultados do modelo da Estratégia de Saúde da Família está a maior resolutividade e a redução do impacto na cadeia de atendimento da saúde. Nas unidades de saúde que não adotam este modelo, 23% dos pacientes são encaminhados para outros serviços. Nas US com Saúde da Família, o índice é de 17%. A realização de procedimentos ambulatoriais, mais frequentes nas ESFs, também ajuda a desafogar a fila das unidades de atenção especializada. A usuária Juliana Cardoso de Oliveira, de 26 anos, fez a extração de um cisto sebáceo na própria US Coqueiros. Em data e horário previamente agendados, em 40 minutos, a equipe realizou o procedimento, retirando o cisto para biópsia.

A aproximação entre os recursos de saúde e o paciente é a principal característica da Estratégia de Saúde da Família, modelo de atenção básica definido como prioritário pela gestão do prefeito Gustavo Fruet. Para isso, a administração apostou na sua expansão, passando de 185 equipes e cobertura de 45% da população em 2013 para as atuais 233 equipes que atendem a 59% dos usuários do sistema. “Outra medida foi levar o atendimento de Saúde da Família para unidades mais centrais. Até 2013, o modelo era localizado na periferia”, observa o médico Marcelo Kolling, coordenador da carteira de serviços da Atenção Básica da Secretaria Municipal da Saúde.

Rotina

A US Coqueiros tem quatro equipes médicas que dividem o atendimento de um território com 15 mil habitantes. Foi inaugurada em março de 2015 e oferece ainda serviços odontológicos, além de contar com o apoio de um dos 27 Núcleos de Apoio ao Saúde da Família (NASFs) que atuam no SUS Curitiba, em que psicólogos, ginecologistas, fisioterapeutas, farmacêuticos, profissionais de educação física e nutricionistas prestam suporte aos profissionais envolvidos diretamente com os pacientes.

Ao chegar à unidade, o usuário é acolhido conforme a equipe designada para a área onde está localizada sua residência. As equipes desta US são formadas por médicos especialistas no atendimento na atenção primária, com formação em Medicina da Família e Comunidade, residentes em Medicina e Enfermagem, enfermeiros, técnicos e auxiliares em enfermagem, que dividem as atribuições no atendimento. Em seguida, o encaminhamento é feito de acordo com a complexidade da queixa. “Em até 48 horas, esse paciente precisa ter sua demanda resolvida pela equipe”, conta o coordenador da US Coqueiros, Adilson Lopes dos Santos.00183261

Conhecer o histórico e o ambiente do paciente aumenta o vínculo com o profissional de saúde. Permite também entender o contexto da queixa, como fatores domésticos que possam afetar o quadro, o que torna o diagnóstico mais rápido e preciso. “É diferente quando você faz a avaliação do cidadão no meio em que ele está inserido. A visão é mais abrangente”, explica o médico Bruno Bizinelli, da equipe “amarela” da US Coqueiros.

O aposentado João dos Santos, de 58 anos, sua esposa, filhos e netos são acompanhados pela equipe amarela. “É muito mais prático falar sempre com o mesmo médico ou profissional de saúde. Ele já me conhece, sabe quais exames eu fiz e que medicamentos eu uso”, diz.

Política pública

Ciente de que a Estratégia de Saúde da Família traz vantagens para o usuário e para o sistema, a atual administração apostou na ampliação do modelo de atendimento no Município e estimula a formação de profissionais na área.

A criação de um programa de especialização da modalidade residência próprio da Secretaria Municipal da Saúde e a parceria com universidades permitiram a expansão da residência em Medicina de Família e Comunidade em Curitiba. Desde 2013, as vagas passaram de 20 para 100. Também foi criada a Residência Multiprofissional em Saúde da Família em 2014, que contempla outros profissionais essenciais para o bom funcionamento do serviço de atenção primária à saúde.

Mas o número de profissionais disponíveis e capacitados não é a única barreira para ampliar o atendimento no modelo. O maior desafio para a expansão desde 2014 tem sido de ordem orçamentária e financeira. A remuneração dos profissionais envolvidos na Estratégia da Saúde da Família em Curitiba inclui gratificações que incidem sobre o salário base de cada categoria e, apesar da fonte para tal diferença ser composta por recursos municipais e federais, tem se ampliado nos últimos anos a proporção que cabe diretamente ao Município. “Precisamos equacionar a questão orçamentária para ter mais condições de ampliar o serviço”, observa Kolling.